É cada vez mais comum que as crianças tenham dificuldade de concentração, afinal, são muitas distrações no dia a dia delas. O que fazer? Estudar música pode ser um caminho.
Felipe Guimarães é músico e professor de música e atua no ensino de violão para crianças. Integra a escola 6 Cordas e cursa Licenciatura em Música pela Universidade de Brasília.
É cada vez mais comum que as crianças tenham dificuldade de concentração, afinal, são muitas distrações no dia a dia delas. O que fazer? Estudar música pode ser um caminho.
Nos tempos de hoje, é cada vez mais frequente que as crianças desenvolvam dificuldades de concentração. A enorme quantidade de distrações a que elas são submetidas explica facilmente esse fenômeno. Uma infinidade de jogos no celular, uma enxurrada de vídeos na internet, um sem fim de desenhos animados na televisão, tudo isso geralmente acompanhado de uma enorme quantidade de propagandas. São muitas distrações! Então, o que fazer? É preciso procurar alternativas que estimulem as crianças a desenvolverem mais atenção e concentração. Várias pesquisas pelo mundo têm apontado um caminho: o estudo da música.
Pesquisadores da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, realizaram uma pesquisa com 63 crianças de 9 a 12 anos de idade, das quais 32 estudavam música regularmente desde os cinco anos de idade, e 31 nunca tinha tido nenhum contato com o estudo musical.
Todas as crianças participaram de um teste que demandava atenção e concentração para realizar o comando dado, mas que nada tinha a ver com música. A tarefa consistia em repetir uma sequência de cores que se acendiam em teclas coloridas: o tradicional jogo Simon.
Foram medidas as taxas de erro e o tempo de resposta de cada criança, e descobriu-se que aquelas que tinham experiência com a música tiveram um desempenho significativamente melhor.
Um outro estudo, conduzido pela neurocientista Dra. Leonie Kausel, da Pontifícia Universidade Católica do Chile e da Universidad del Desarrollo Chile, observou que crianças que estudam música regularmente têm uma maior facilidade em tarefas que exigem atenção e memória.
A pesquisa foi realizada com 40 crianças, das quais 20 tocavam algum instrumento e estudavam música regularmente há pelo menos dois anos, e 20 não tinham tido contato com o estudo de música para além do currículo escolar básico.
O resultado dessa pesquisa foi semelhante: foram mensuradas as áreas cerebrais ativadas durante as tarefas, e aquelas relacionadas ao controle de atenção tiveram maior atividade nas crianças que estudam música.
Mas por que a música ajuda tanto na concentração em crianças?
Para entender isso, é preciso compreender como funciona o processo humano de concentração e de distração.
O cérebro humano se desenvolveu para alternar entre a atenção focada , que se volta a um estímulo específico em que queremos nos concentrar, e uma atenção dispersa , que escaneia o ambiente como um todo e processa vários estímulos ao mesmo tempo.
Isso, com certeza, foi muito importante para a sobrevivência da nossa espécie: o homem selvagem, na pré-história, precisava ter uma atenção focada para, quando fosse caçar, mirar bem e acertar o alvo. Mas não podia abrir mão de, ao mesmo tempo, estar atento a todos os estímulos do ambiente, pois era preciso manter o alerta que avisa quando um predador se aproxima ao lado…
O problema, nos nossos tempos, é que a atenção dispersa tem se tornado distração, ocupando um espaço muito grande em nossa atividade cerebral, em função da quantidade avassaladora de estímulos com as quais convivemos o tempo inteiro, especialmente no mundo digital.
Para a criança, a dificuldade de concentração muitas vezes se torna ainda mais intensa. Isso porque ela ainda está desenvolvendo suas funções cerebrais, incluindo aquelas voltadas ao controle de atenção.
E como é que uma criança controla sua atenção? Através de um processo que os pesquisadores chamam de inibição cognitiva. Trata-se da capacidade de ignorar informações que são irrelevantes e concentrar a atenção no que interessa naquele momento.
Vamos imaginar a seguinte situação: Pedro, de 9 anos, vai fazer um arremesso na final do torneio de basquete da escola. Ele precisa concentrar sua atenção na bola e no alvo, e ignorar, por um momento, os estímulos ao redor: as outras crianças gritando, o pai e a mãe torcendo por ele na arquibancada, o barulho que os tênis dos colegas fazem no chão da quadra, o eco que esse barulho faz no ginásio, a busina do caminhão que passou na rua ao lado…
Quando se trata de tarefas escolares, é muito frequente que as crianças se dispersem, pois os estímulos exteriores muitas vezes parecem ser mais atrativos. A criança tem dificuldade de se concentrar pois sabe que os irmãos estão na sala jogando video-game; sabe que logo mais o seu youtuber favorito vai postar um novo vídeo; lembra do episódio do desenho animado que abandonou pela metade ontem a noite…
rawpixel.com – br.freepik.com
Em resumo: a inibição cognitiva é o processo que faz com que a criança consiga ignorar esses estímulos exteriores, que no momento são irrelevantes, para concentrar sua atenção naquilo que vai ajudar a alcançar seu objetivo no momento.
Então, afinal de contas…
É simples: quando uma criança está tocando um instrumento musical, ela precisa concentrar sua atenção em uma série de fatores. Precisa estar atenta à partitura ou à cifra para conseguir acompanhar a música sem se perder. Precisa prestar atenção se está colocando os dedos de forma correta no instrumento e se está tocando exatamente no momento certo.
Se ela for cantar enquanto toca o instrumento, vai precisar estar atenta à melodia da voz e à letra da música. Vai se esforçar para acertar a hora em que a voz entra na música e a hora em que sai.
Se estiver tocando em grupo, ela precisa estar atenta ao que as outras crianças estão fazendo, para tocar junto com elas, ao mesmo tempo em que precisa ignorar estímulos que podem atrapalhar (quando alguma outra criança erra, por exemplo).
Por todos esses fatores a que a criança precisa estar atenta – além de muitos outros –, a música é um excelente treinamento para a concentração. E conta com uma grande vantagem: o resultado de cada tarefa é divertido, lúdico e atrativo – afinal de contas, ela vai estar tocando um instrumento, fazendo música. Por isso, a criança concentra seus esforços para realizar cada proposta, e enquanto isso está exercitando sua capacidade de concentração
Se você se interessou por essa possibilidade, pode estar se perguntando: como posso colocar meu filho (ou filha) numa aula de música? A partir de que idade? Criança consegue tocar um instrumento?
A resposta é que desde recém-nascidas as crianças podem começar a serem estimuladas no universo musical. Nos primeiros anos, elas fazem atividades de musicalização infantil. E, em geral a partir dos seis anos, podem aprender a tocar um instrumento. Se quiser saber mais sobre o assunto, você pode ler o nosso artigo Criança pode tocar violão?.
Another brain benefit of music lessons
Children who regularly play a musical instrument have better memory and attention span
Nos tempos de hoje, é cada vez mais frequente que as crianças desenvolvam dificuldades de concentração. A enorme quantidade de distrações a que elas são submetidas explica facilmente esse fenômeno. Uma infinidade de jogos no celular, uma enxurrada de vídeos na internet, um sem fim de desenhos animados na televisão, tudo isso geralmente acompanhado de uma enorme quantidade de propagandas. São muitas distrações! Então, o que fazer? É preciso procurar alternativas que estimulem as crianças a desenvolverem mais atenção e concentração. Várias pesquisas pelo mundo têm apontado um caminho: o estudo da música.
Pesquisadores da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, realizaram uma pesquisa com 63 crianças de 9 a 12 anos de idade, das quais 32 estudavam música regularmente desde os cinco anos de idade, e 31 nunca tinha tido nenhum contato com o estudo musical.
Todas as crianças participaram de um teste que demandava atenção e concentração para realizar o comando dado, mas que nada tinha a ver com música. A tarefa consistia em repetir uma sequência de cores que se acendiam em teclas coloridas: o tradicional jogo Simon.
Foram medidas as taxas de erro e o tempo de resposta de cada criança, e descobriu-se que aquelas que tinham experiência com a música tiveram um desempenho significativamente melhor.
Um outro estudo, conduzido pela neurocientista Dra. Leonie Kausel, da Pontifícia Universidade Católica do Chile e da Universidad del Desarrollo Chile, observou que crianças que estudam música regularmente têm uma maior facilidade em tarefas que exigem atenção e memória.
A pesquisa foi realizada com 40 crianças, das quais 20 tocavam algum instrumento e estudavam música regularmente há pelo menos dois anos, e 20 não tinham tido contato com o estudo de música para além do currículo escolar básico.
O resultado dessa pesquisa foi semelhante: foram mensuradas as áreas cerebrais ativadas durante as tarefas, e aquelas relacionadas ao controle de atenção tiveram maior atividade nas crianças que estudam música.
Mas por que a música ajuda tanto na concentração em crianças?
Para entender isso, é preciso compreender como funciona o processo humano de concentração e de distração.
O cérebro humano se desenvolveu para alternar entre a atenção focada , que se volta a um estímulo específico em que queremos nos concentrar, e uma atenção dispersa , que escaneia o ambiente como um todo e processa vários estímulos ao mesmo tempo.
Isso, com certeza, foi muito importante para a sobrevivência da nossa espécie: o homem selvagem, na pré-história, precisava ter uma atenção focada para, quando fosse caçar, mirar bem e acertar o alvo. Mas não podia abrir mão de, ao mesmo tempo, estar atento a todos os estímulos do ambiente, pois era preciso manter o alerta que avisa quando um predador se aproxima ao lado…
O problema, nos nossos tempos, é que a atenção dispersa tem se tornado distração, ocupando um espaço muito grande em nossa atividade cerebral, em função da quantidade avassaladora de estímulos com as quais convivemos o tempo inteiro, especialmente no mundo digital.
Para a criança, a dificuldade de concentração muitas vezes se torna ainda mais intensa. Isso porque ela ainda está desenvolvendo suas funções cerebrais, incluindo aquelas voltadas ao controle de atenção.
E como é que uma criança controla sua atenção? Através de um processo que os pesquisadores chamam de inibição cognitiva. Trata-se da capacidade de ignorar informações que são irrelevantes e concentrar a atenção no que interessa naquele momento.
Vamos imaginar a seguinte situação: Pedro, de 9 anos, vai fazer um arremesso na final do torneio de basquete da escola. Ele precisa concentrar sua atenção na bola e no alvo, e ignorar, por um momento, os estímulos ao redor: as outras crianças gritando, o pai e a mãe torcendo por ele na arquibancada, o barulho que os tênis dos colegas fazem no chão da quadra, o eco que esse barulho faz no ginásio, a busina do caminhão que passou na rua ao lado…
Quando se trata de tarefas escolares, é muito frequente que as crianças se dispersem, pois os estímulos exteriores muitas vezes parecem ser mais atrativos. A criança tem dificuldade de se concentrar pois sabe que os irmãos estão na sala jogando video-game; sabe que logo mais o seu youtuber favorito vai postar um novo vídeo; lembra do episódio do desenho animado que abandonou pela metade ontem a noite…
rawpixel.com – br.freepik.com
Em resumo: a inibição cognitiva é o processo que faz com que a criança consiga ignorar esses estímulos exteriores, que no momento são irrelevantes, para concentrar sua atenção naquilo que vai ajudar a alcançar seu objetivo no momento.
Então, afinal de contas…
É simples: quando uma criança está tocando um instrumento musical, ela precisa concentrar sua atenção em uma série de fatores. Precisa estar atenta à partitura ou à cifra para conseguir acompanhar a música sem se perder. Precisa prestar atenção se está colocando os dedos de forma correta no instrumento e se está tocando exatamente no momento certo.
Se ela for cantar enquanto toca o instrumento, vai precisar estar atenta à melodia da voz e à letra da música. Vai se esforçar para acertar a hora em que a voz entra na música e a hora em que sai.
Se estiver tocando em grupo, ela precisa estar atenta ao que as outras crianças estão fazendo, para tocar junto com elas, ao mesmo tempo em que precisa ignorar estímulos que podem atrapalhar (quando alguma outra criança erra, por exemplo).
Por todos esses fatores a que a criança precisa estar atenta – além de muitos outros –, a música é um excelente treinamento para a concentração. E conta com uma grande vantagem: o resultado de cada tarefa é divertido, lúdico e atrativo – afinal de contas, ela vai estar tocando um instrumento, fazendo música. Por isso, a criança concentra seus esforços para realizar cada proposta, e enquanto isso está exercitando sua capacidade de concentração
Se você se interessou por essa possibilidade, pode estar se perguntando: como posso colocar meu filho (ou filha) numa aula de música? A partir de que idade? Criança consegue tocar um instrumento?
A resposta é que desde recém-nascidas as crianças podem começar a serem estimuladas no universo musical. Nos primeiros anos, elas fazem atividades de musicalização infantil. E, em geral a partir dos seis anos, podem aprender a tocar um instrumento. Se quiser saber mais sobre o assunto, você pode ler o nosso artigo Criança pode tocar violão?.
Another brain benefit of music lessons
Children who regularly play a musical instrument have better memory and attention span
Felipe Guimarães é músico e professor de música. Atua especialmente no ensino de violão para crianças. Integra a escola 6 Cordas e cursa Licenciatura em Música pela Universidade de Brasília.